Apesar de não deixarem comentários, sei que meus alunos acompanham este blog. Por saber disso me confundo um pouco na escrita do mesmo, pois não sei a quem ou a quantos devo me referir. Gramática nunca foi o meu forte, ou seria ortografia?
Bom, enfim, que seja! Aliás, achei o título bacana, mas não faço ideia se faz algum sentido além do que está escrito “ipsis verbis”.
Vejo o blog como um grande caderninho de anotações virtual e tendo por base minha agenda, peço que tenham paciência e façam um esforço para compreender/ compreenderem/ acompanhar/ acompanharem meu raciocínio.
O que quero dizer afinal, é que aproveitarei este espaço para anunciar minha despedida. Pois é, para alegria de uns e infelicidade de outros, este será meu último ano em sala de aula - isso se minha saúde permitir chegar ao final do ano – nada grave, apenas minhas cordas vocais pedindo socorro.
Em 2009 comecei oficialmente minha jornada docente portando diplomas de Licenciatura em Artes Plásticas e Especialização em Artes Visuais. Junto com os planos de mudar o mundo com ideias inovadoras, também a curiosidade de ver como me sairia como professora.
Durante a faculdade eu insistia em dizer que apesar de fazer licenciatura, jamais lecionaria – quem estudou comigo deve lembrar-se disso. Mas durante os estágios aprendi que gostar de dar aula é como sarampo; Quem nunca foi contaminado, deve evitar ficar perto de quem sofre disso, pois é altamente contagioso - palavra de quem sabe o que está falando.
Após os primeiros contatos com alunos, não consegui ficar indiferente ou fazer de conta que não estava gostando da ideia - a não ser quando via meu contracheque e lembrava de meus professores.
Quando eu dizia que não queria ser professora, me baseava em experiências como aluna. Lembro-me que no início da década de 1990 ocorreram greves escolares extensas. E desde então, ser professor pra mim era isso: conciliar o ano letivo com greves. Nunca me perguntei qual o motivo das greves, apenas sabia que professor ganhava pouco e não entendia por que não mudavam de profissão.
E hoje, ao anunciar minha despedida, posso dizer que:
- Estar em sala de aula não gerou apenas problemas em minhas cordas vocais ou exigiu criatividade pra dar os conselhos e sermões que deveriam vir de casa.
- Estar em sala de aula não ocupou apenas o tempo que eu deveria usar para fazer exercícios físicos, dormir ou estar com meus familiares e amigos.
- Estar em sala de aula não me fez apenas passar vontade de comprar um livro, ir ao cinema ou comprar roupas novas com meu minúsculo salário.
- Estar em sala de aula não me ensinou apenas a “me virar nos 30”, ter jogo de cintura para lidar entre alunos, professores, pais, direção, governo, sociedade e afins.
- Estar em sala de aula foi o preço para eu poder dizer que mesmo com tudo isso, valeu –e está valendo - a pena fazer a minha parte.
Por mais clichê que possa parecer, juro não ser hipócrita ao dizer que após quase três anos no magistério aprendi muito mais do que ensinei.
Compreendi que para ser professor não adianta saber por em prática toda teoria, objetivos, justificativas e avaliações que aprendemos na faculdade, se não amarmos esta profissão.
Ainda não sei como registrar no diário de classe o orgulho por ser vista como um porto seguro, amiga e conselheira, tão pouco como avaliar os momentos de alegria proporcionados em sala de aula. Assim como tenho boas lembranças de meus professores, espero um dia ser lembrada com o mesmo carinho.
Sei que não agrado a todos. Na verdade, tenho plena consciência que confundo muitos com esse meu jeito de “metralhar” ideias e informações.
Se algumas vezes – quase sempre - falo rápido demais, é por ter pouco tempo para transmitir tudo que precisam saber. Em algumas turmas tenho pouco mais de 30 minutos semanais - eu não consigo fazer minhas unhas em 30 minutos!
Mas também sei que apesar do “meu jeito Greice de ser”, muitos tiram proveito do que ensino e é por esses e pra esses que tenho me esforçado para seguir criando as aulas como eu gostaria de receber se fosse minha própria aluna.
Admito não ter nascido pra dar aula usando giz e quadro negro. Além de ter uma letra que só fica legível após ser impressa, não gosto de perder tempo ditando o que não entenderam e muito menos limpando minha roupa que sofre com minha descoordenação motora.
Prefiro otimizar meu tempo com vídeos. Estou sempre com meu notebook e agora que comprei as caixinhas de som prefiro acreditar que gostem disso.
Sem dúvida este é um dos motivos de agora precisar anunciar minha escolha/necessidade de pendurar as chuteiras.
Por quê?
Porque cansei de ir contra a maré. Por querer preparar alunos para a vida, estimular propostas mirabolantes, usar minhas experiências para motiva-los a acreditar e batalhar por seus sonhos, estou deixando minha vida, minha saúde, meus amigos e meus próprios sonhos de lado.
Agora eu é que pergunto: Para quê?
De que adianta ensinar sobre arte, tecnologia, meio ambiente e tantas outras coisas urgentes se me sinto uma mentirosa? É, uma mentirosa.
Pois eu batalho por tudo isso e o que eu ganho?
Qual o retorno que estou tendo por ter feito faculdade, pós-graduação, estar tentando uma bolsa de mestrado e me dedicado em pesquisas e ações em prol da arte, educação e meio ambiente?
Não bastasse o tempo que a preparação das aulas me exige, ganhei mais uma função – não remunerada, óbvio. Por ser a “professora high tech” (toda escola tem uma assim), fui promovida a “professora quebra-galho”.
É sempre aquela velha história:
- “Greice, já que tu sabes fazer tal coisa...”
- Pois é, exatamente, eu sei! E se eu sei é por que um dia tive que parar e aprender.
- “Mas eu não posso, tenho marido e filhos”.
- Sério? Que ótimo! Eu ainda não. Talvez por passar muito tempo fazendo para os outros aquilo que um dia me dediquei para aprender.
- “Mas eu não tenho prática.”
- Eu também não tinha.
É maluco dizer isso, mas de uns tempos pra cá tenho medo de aprender coisas novas. E quando aprendo me policio para não dizer que sei.
Adoro ensinar, ser útil. Isso me faz bem - de verdade. Só que por “ser a pessoa que sabe”, acabei me tornando “a pessoa que nunca tem tempo pra si”. Falando em maluquices, as vezes tenho a impressão de que quanto mais o tempo passa, mais contemporânea a fábula de “A Cigarra e a Formiga” fica.
Creio que o fato de eu saber isso ou aquilo não me obriga a ter que fazer algo por alguém que assiste televisão enquanto eu pesquiso na internet. A não ser que exista um banco que aceite uma carta de agradecimento das pessoas que usufruíram disso quando eu tiver que pagar um carnê.
[Não estou criticando quem aprende com esta troca entre contatos, mas sim àqueles que se auto intitulam como incapazes, não querem aprender e acham que por saber eu tenho obrigação de fazer por eles. Eu mesma sou adepta do “S.O.S. MSN” – por precaução, não divulgarei minhas fontes.]
Toda esta minha indignação me ajudou a finalmente entender o grande problema de ser professor. Há diversas teorias culpando o governo, os alunos, os pais e é claro: os professores.
E sabe o que descobri?
É que de fato, a culpa É DOS PROFESSORES.
A questão não é o “dar aula” nem o “ganhar pouco”. É estar ganhando pouco para ficar muito tempo ocupado.
Tempo esse que poderia ser aplicado em atividades que gerassem um lucro extra, tendo a carreira docente como uma espécie de “hobby”.
Eu adoraria seguir dando aula se fosse possível conciliar outras atividades, porém, quando não estou em sala de aula, estou em função das aulas.
Quando digo que a culpa é dos professores, é por que muitos aceitaram essa realidade e simplesmente adequaram suas aulas conforme o salário para não prejudicar seu estilo de vida.
Assim, dão aulas sem sal - nada particular ou em específico – e tiram o brilho de quem se doa para fazer algo diferente.
Outra descoberta...
Lembram-se daquele professor que parecia ter parado no tempo? (Não precisa dizer o nome)
Lamento informar, mas este sim era “O Cara”. Conseguiu equilibrar o trabalho e o tempo de lazer conforme seu salário.
Estudos? Pra quê? Ainda não entenderam que com o que pagam para um professor está muito claro que não precisamos continuar estudando?
Professores assim realmente dão aula. O que eu faço tem outro nome... mágica, milagre, penitência ou seja lá como preferirem chamar.
Admiro-me por tentarem fazer algum cursinho – com preço acessível - que coincida com os sábados que não tem reunião/ festa junina/ entrega de boletim/ dia das mães/ conselho/ capacitação na escola.
Ah, é mesmo, esqueci-me de dizer que independente do salário, precisamos estar em constante aprendizado. Ou seja, talvez o professor que faz o que o governo incentiva a fazer não esteja fazendo totalmente certo.
É estanho falar isso, pois já fiz cursos em dia de reunião e ainda fiquei com sentimento de culpa – juro que fiquei e ainda dei explicações para a direção ao entregar o atestado. Mas já aprendi a lidar com esse tipo de situação. Por falar nisso, me inscrevi em mais alguns cursos para os próximos sábados. =]
Sou professora de Artes e posso ter questões mal resolvidas com a língua portuguesa, porém, em matemática eu sempre me dei muito bem. E não compreendo a lógica ou algo que justifique o que recebo. A não ser que alguém possa me ajudar a refazer esta fórmula:
Remuneração pelo trabalho executado = Salário
A educação só está assim por que tem quem se conforme com isso e colabore com a inércia. E quem quer fazer diferente tem que escolher: aceitar a sobrecarga ou cair fora enquanto há tempo.
Amo meu trabalho, sentirei falta de meus colegas professores e principalmente dos alunos. Por mais que esteja desabafando, não estou reclamando das pessoas e nem do salário, muito menos do que faço, pois apesar dos pesares, me divirto muito. Estou questionando a lógica disso tudo. Se é que existe.
Talvez eu esteja no ápice de minha metamorfose. Assim como alguns jogadores aposentados viraram técnicos, talvez eu precise passar de professora para algo diferente. Uma função que aproveite o que tenho de bom, pois não posso estar tão errada com relação a tudo – só o que me faltava!
Quando penso em meus alunos, não levo em consideração quem está no governo, o que a direção ou os pais esperam de mim. Penso apenas na minha missão de fazer a diferença na vida de cada um deles. Infelizmente, para atingir meu objetivo preciso enfrentar a burocracia escolar, compensar o que os pais deixaram de fazer e me submeter ao “pseudo-salário” que o governo me fornece.
É revoltante saber que ao lutar pelos direitos dos professores não defendem a classe, simplesmente atacam o governo.
Uma estratégia equivocada e ineficaz – pra não dizer “burra”. Não votei no Tarso, nunca simpatizei com a Yeda e pra ser sincera, não estou nem ai pra eles – uma relação recíproca.
Outra coisa que aprendi, é que todo bom professor tem um grande defeito: amar o que faz.
Não que isso seja ruim, mas torna-se uma desculpa para justificar o porque de continuar se submetendo a tudo isso.
Alunos, fiquem tranquilos... pois vocês não tem nada a ver com isso. Nosso vínculo entre professor-aluno é mais forte que qualquer queixa que eu possa ter feito aqui. O que não justifica o trabalho que vocês me dão para poder acomodar a turma e começar a falar!!!! =/
É sempre assim...
"Ok, não vão parar?
Então vou contar até três:
- Um
- Dois
(pausa)
- Dois e meio
..."
Espero poder atingir alguém que dê valor ao que eu digo, pois tenho a obrigação de mostrar que tudo que sempre ensinei é real.
Tenho sonhos a serem realizados, mas permanecendo em sala de aula estarei fadada a me tornar uma professora velha, frustrada e neurótica.
Que me perdoem os colegas que estão para se aposentar, pois admiro terem aguentado encarar esta profissão, mas não estou disposta a passar minha vida com medo de fazer um carnê, ter que escolher entre comprar um livro ou a camiseta de uma oitava série.
Não acho justo ser julgada por uma sociedade que não tem noção do que faço e quer dizer como deveria fazer.
Na verdade, meu maior medo é um dia um ex-aluno me ver nesta mesma posição, com as mesmas queixas e lembrar-se do que um dia eu falei sobre lutar pelos seus ideais.
Não quero desqualificar o que faço para estar de acordo com o que ganho, muito menos ser um patinho feio ao insistir em ser diferente de quem não se importa com isso.
Peço perdão pelos erros de português, pois assim como a criação deste texto ocupou minha tarde de folga, levaria outra tarde para corrigi-lo e não acho legal pedir que uma professora de língua portuguesa faça isso por mim.
Certamente encontraria voluntárias, pois professor não tem folga, apenas termina de fazer em casa.